domingo, 13 de fevereiro de 2011

Carta Aberta do ARCO e do NÁUTICO -compensações pela formação de atletas

CARTA ABERTA À FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE REMO
Exmo. Senhor Presidente da Federação Portuguesa de Remo.

No Remo, a formação, tal como em muitas outras modalidades amadoras, é essencial à criação de bons praticantes para o desenvolvimento da modalidade. Sem formação, e atendendo à especificidade própria do remo, das suas condições de treino e de realização das provas, seria improvável que qualquer jovem com mais de dezoito anos de idade viesse a abraçar a modalidade, com possibilidades de sucesso desportivo no futuro. Na formação não se pretende apenas formar atletas mas, também cidadãos, incutindo-lhes valores, responsabilidade, disciplina, regras de convivência, de trabalho no treino e de respeito pelas instituições que os formam. Por tudo isto, os clubes que se dedicam e investem uma grande parte dos seus recursos em formação, têm e devem ser protegidos em relação àqueles que, possuindo um maior poder financeiro, têm capacidade para aliciar atletas em idades mais avançadas para representar os seus emblemas.
A Direcção da Federação Portuguesa de Remo, tendo consciência destes factos, elaborou e procurou fazer aplicar, no inicio da presente época desportiva (2010-2011), um regulamento de transferências que tinha por finalidade a protecção dos clubes que, apesar destas contrariedades recorrentes, ainda acreditam que vale a pena investir na formação. No seu espírito presidia a ideia de que os clubes com maiores possibilidades financeiras deveriam compensar os clubes onde os remadores são formados, não só pelas despesas que estes possam ter com a formação dos atletas, mas também como forma de desincentivar o aliciamento de jovens que nascem e crescem para a modalidade nos clubes de formação e que, depois, são desviados para clubes próximos onde predomina a apetência "cega" pelos títulos e pela vã e efémera glória dos triunfos fáceis. Só que, feito de forma apressada, sem estrutura nem aconselhamento técnico/jurídico, o dito regulamento apresentava várias lacunas que o fragilizavam, qual baralho de cartas fazia pressupor que cairia à primeira. E foi o que efectivamente aconteceu.
Os dois clubes da cidade de Viana do Castelo viram-se, no início da presente época, particularmente atingidos, perante o aliciamento feito a vários dos seus atletas (25 no total). Parte destes, (4) para integrarem um projecto desportivo que será provavelmente um nado-morto desde a sua fecundação. Face a isso, esses atletas, todos formados desde infantis nos ditos clubes, acabam por ser oferecidos por treinadores sem escrúpulos (é este o termo) a clubes que, pouco ou nada dados à promoção e investimento na formação assim beneficiam, a custo zero, de todo um trabalho árduo de vários anos dos clubes de Viana onde os atletas foram formados.
A Federação Portuguesa de Remo invocou, inicialmente, o regulamento de transferências para impedir a inscrição destes atletas, sem que o mesmo se cumprisse no que diz respeito às compensações devidas aos clubes de formação. No entanto, confrontada e "assustada" com uma providência cautelar, solicitou ao Conselho de Justiça um parecer sobre o regulamento de transferências, parecer este que, sem concluir pela ilegalidade do mesmo, apontava a necessidade de reformular algumas das suas normas. A Federação Portuguesa de Remo, no entanto e de forma surpreendente, em vez de seguir o parecer do Conselho de Justiça e encetar os procedimentos para a reformulação daquele regulamento, decidiu, pura e simplesmente, suspender a aplicação de apenas uma das suas normas. Exactamente aquela que previa a impossibilidade de inscrição de atletas sem o pagamento de compensações.
A tanto não estaria obrigada, pela simples razão de que aquela providência cautelar ainda não produzira quaisquer efeitos e, mesmo o pedido provisório da providência tinha sido indeferido liminarmente. Entendemos que este foi um mau serviço prestado pela Federação Portuguesa de Remo.
Que garantias ou incentivos terão então os clubes para poderem continuar a investir na preparação e formação dos seus jovens atletas, sabendo que qualquer clube, com possibilidades económicas maiores, os poderá vir buscar, atletas já formados para render títulos?
Como dar continuidade a uma política de formação virada para a juventude, despendendo dinheiros que muitas vezes não têm, para depois constatarem que aqueles que pouco fizeram em termos de formação e de aposta na juventude, são os que figuram nos jornais com títulos alcançados à custa de atletas que foram buscar aos clubes que lhes deram formação?
Qual o incentivo que terão os dirigentes e os clubes que se empenharam na aquisição equipamentos de formação complementar (de ginásio) e de embarcações mais modernas no sentido de darem aos jovens atletas as melhores condições para o seu desenvolvimento da modalidade, para depois verificarem que tudo o que lhes foi ensinado é aproveitado por quem tem mais dinheiro!?
É tempo de repensar este estado de coisas.
É tempo de os dirigentes federativos perceberem que é necessário ter a coragem de dizer não a certos clubes que se procuram impor, não pelo que fazem em prol do crescimento da modalidade, mas sim pelas suas possibilidades económicas…
É tempo de proteger quem faz formação, para que tenham o direito a colher os frutos do tempo empregue no ensino da modalidade, das condições que proporcionam aos seus jovens atletas, do esforço dispendido pelos seus dirigentes e pelos pais dos atletas.
A ARCO e o Clube Náutico de Viana não podem assim calar a revolta que sentem e dela não deixaram de dar conhecimento a todos quantos estão ligados à modalidade.
Os citados clubes aguardam assim que a Federação Portuguesa de Remo esclareça cabalmente todos os clubes sobre estes factos e que, de forma profissional e responsável, proceda à sua regulamentação urgente.
Os clubes signatários, ARCO e Clube Náutico de Viana

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